Zona de Conforto nem Sempre é Confortável

O crescimento acontece mais rápido quando você sai da sua zona de conforto. Isso se aplica à sua vida profissional, pessoal, financeira enfim, a todas as áreas de nossa vida.

Geralmente, quem se mantém em uma zona de conforto tem medo de encarar sua realidade e insatisfação, pois inconscientemente sabe que ao olhar a situação mais de perto, poderá identificar algo que precisa ser mudado. E para tanto, novas e diferentes atitudes precisarão ser tomadas.

Neste ponto nos deparamos com um certo dilema, pois se considerarmos que a vida é uma sucessão de infinitas mudanças, não temos de fato qualquer garantia de que estaremos absolutamente seguros em nossa zona de conforto.

Hoje temos falado muito sobre vieses comportamentais, e existe um viés que explica muito bem esse conceito de zona de conforto.

Trata-se do Viés do Status Quo.

O Viés do Status Quo consiste na preferência por manter o estado atual, seja por não fazer nada ou por insistir em uma decisão já tomada, ainda que uma mudança possa representar a escolha mais proveitosa, proporcionando um aumento de bem-estar.

Quando aplicamos esse conceito na área financeira, observamos que permanecer com opções pré-selecionadas nem sempre é benéfico, como ocorre, por exemplo, quando a um produto ou serviço são acoplados outros de que a pessoa não necessariamente precisa (cheque especial e cartão de crédito na abertura de conta).

Esse tipo de venda apela para o Viés do Status Quo, pois se baseia na premissa de que muitas pessoas vão ignorar a existência de outras opções ou de que permanecerão na inércia, aceitando passivamente o que já estiver previamente escolhido.

Além de nos fazer consumir produtos desnecessários, esse viés pode funcionar como um obstáculo à poupança, pois pode nos manter inertes, no sentido de não tomarmos nenhuma atitude, mesmo reconhecendo a necessidade de guardar dinheiro.

O Viés do Status Quo está relacionado com o temor pelo desconhecido e com a aversão à perda, levando as pessoas a se apegarem ao que já conhecem ou a preferirem deixar de ganhar por medo de se arriscar a perder.

Além disso, as pessoas tendem a sentir mais fortemente os maus resultados gerados por suas ações do que efeitos gerados por suas omissões, mesmo que os últimos sejam piores, como se sua culpa residisse apenas no que elas fazem e não no que deixam de fazer.

Isso pode levar a uma postura do tipo: “sei que estou ganhando menos, mas prefiro saber onde piso”. No entanto, em um cenário econômico de alta nos preços, por exemplo, apesar de parecer mais seguro, esse tipo de comportamento é arriscado, pois pode fazer o poupador permanecer em uma aplicação que até parece rentável, pois aumenta nominalmente, mas que na realidade está perdendo para a inflação.

Precisamos nos conscientizar de nossa preferência por permanecermos na inércia e tomar providências para que isso não aconteça.

Mas, o que eu posso fazer para contornar esse comportamento?

• Tentar estabelecer objetivos relacionados ao dinheiro poupado que possam dar um horizonte temporal para a aplicação e, ao mesmo tempo, servir como motivação para o acompanhamento ativo do investimento. Por exemplo, poupar para pagar a educação dos filhos;

• Reavaliar periodicamente se as premissas que orientaram suas escolhas econômicas e financeiras permanecem válidas: por exemplo, se você vem aplicando em determinado produto financeiro, mas a taxa de administração aumenta ou o gestor muda, é preciso considerar a troca da posição atual ou escolher outro produto para novas aplicações;

• Aumentar o montante poupado sempre que tiver algum aumento na renda e separar uma parte para poupar sempre que receber um dinheiro extra;

• Ficar atento a opções pré-selecionadas ao firmar contratos com instituições financeiras: a venda casada é proibida e a instituição não pode obrigar o cliente a aceitar um produto que não deseja para poder ter acesso a outro;

• Evitar apegar-se aos produtos financeiros que já possui ou conhece, procurando saber sobre novas modalidades, e certificar-se dos custos e regras antes de reinvestir, pois as instituições financeiras podem alterá-las a qualquer momento; e

• Finalmente, tomar para si a responsabilidade sobre suas decisões, com base nas perspectivas futuras da economia e não no passado, ao invés de aceitar passivamente o que for oferecido.