Saber o Que Precisa Ser Feito Não é Suficiente

Muitas pessoas acreditam que o sucesso financeiro depende única e exclusivamente de conhecimento técnico sobre finanças. E durante um bom tempo esse tipo de afirmação era tida como certa.

A partir de diversos estudos, provou-se que o resultado financeiro de uma pessoa está muito mais associado ao seu comportamento do que ao seu conhecimento técnico. (Inclusive falei sobre isso no artigo Investir é Comportamental).

E para ilustrar essa visão, quero contar uma história real de duas pessoas, Ronald Read e Richard Fuscone, que comprova esse ponto de vista onde o sucesso financeiro não depende da sua inteligência, e sim do seu comportamento.

Ronald Read foi um filantropo, investidor, faxineiro e frentista dos Estados Unidos.

Ele nasceu na zona rural e foi a primeira pessoa da sua família a concluir o ensino médio.

Sua vida era extremamente discreta. Read passou 25 anos consertando carros e 17 anos varrendo o chão de uma loja. Aos 38, comprou uma casa simples por 12 mil dólares, onde viveu pelo resto da vida.

Seu hobby era cortar lenha. E em 2014, aos 92 anos, ele acabou falecendo.

E foi nesse momento que ele ganhou as manchetes do mundo todo.

Só para se ter uma ideia, 2.813.503 americanos morreram em 2014. Menos de 4 mil deles tinham um patrimônio de mais de 8 milhões de dólares quando faleceram. Ronald Read estava nessa lista.

No testamento, o ex-faxineiro deixou 2 milhões de dólares para os enteados e mais de 6 milhões para o hospital e para a biblioteca da cidade.

Todos que conheciam Read ficaram perplexos.

Muitos questionaram: onde ele tinha conseguido todo esse dinheiro?

No fim das contas, não havia nenhuma história secreta. Read guardou o pouco que podia e investiu em ações “blue chips”, ou seja, ações de grandes empresas. Em seguida, passou décadas esperando aquele pequeno investimento inicial render e alcançar 8 milhões de dólares.

Simples assim. De faxineiro a filantropo.

Poucos meses antes da morte de Ronald Read, um homem de nome Richard também chamara a atenção dos jornais.

Richard Fuscone, um executivo do banco Merrill Lynch, formado em Harvard e com pós-graduação, teve uma carreira tão bem-sucedida no mercado financeiro que se aposentou aos 40 anos e se tornou filantropo.

David Komansky, ex-CEO do Merril Lynch, elogiou o talento para os negócios, a capacidade de liderança, o bom senso e integridade pessoal de Fuscone.

A revista Crain, especializado em negócios, o incluiu em uma das suas listas de “40 empresários de sucesso com menos de 40 anos”.

Mas, por volta dos anos 2000, Fuscone fez um grande empréstimo para expandir uma mansão em Greenwich, Connecticut, cujos custos de manutenção eram superiores a 90 mil dólares por mês. E então veio a crise financeira de 2008.

A crise afetou as finanças de quase todo mundo e, aparentemente, transformou o dinheiro de Fuscone em pó. Dívidas altas e ativos sem liquidez o levaram à falência.

Ronald Read era paciente; Richard Fuscone, ganancioso. Isso foi o suficiente para que a enorme diferença entre a formação e a experiência deles se tornasse irrelevante.

O mais interessante dessas histórias é que elas acontecem muito no mercado financeiro.

Você consegue imaginar algum outro setor da nossa sociedade onde uma pessoa sem diploma universitário, sem treinamento, sem formação e sem experiência consiga superar uma pessoa com formação, treinamento e as melhores conexões?

É possível um Ronald Read realizar um transplante de coração melhor do que um cirurgião que estudou em Harvard?

A reflexão que proponho não é que você seja mais como Ronald e menos como Richard, apesar de não ser ruim essa lógica.

O ponto que precisamos entender é que o sucesso financeiro não é uma habilidade técnica e sim uma habilidade pessoal, onde o seu comportamento é o mais importante.

Um gênio que não tem controle sobre suas emoções provavelmente será um desastre financeiro.

Ao passo que, pessoas comuns, sem nenhuma educação financeira, podem alcançar a riqueza desde que tenham as habilidades comportamentais certas.

Por isso, lembre-se: Saber o que precisa ser feito não é suficiente.

*Artigo inspirado pelo livro “A Psicologia Financeira” – Morgan Housel